Nem só de reggaeton vivem os argentinos. E se existe uma coisa que eles sabem fazer, é música. E rock!
Lembro do meu primeiro dia de aula no curso de espanhol. Antes das aulas todo mundo ficava reunido numa sala, tomando café e comendo uns petiscos. Em cima da mesa, havia um aparelho de sons e alguns Cds. Ali foi quando conheci Soda Stereo.

A banda começou em Buenos Aires em 1982. Com um estilo meio glam, Gustavo Cerati, Zeta Bosio e Charly Alberti conseguiram sucesso em toda América Latina, sendo considerada umas das mais influentes bandas de rock em espanhol, e contribuiu e muito para difusão do rock iberoamericano no mundo.

Depois de alguns anos de estrada, e muitos recordes de venda, a banda decidiu terminar em meados de 97 e saiu em uma turnê de despedida. O cd desse show é uma ótima pedida pra quem quer começar a ouvir a banda, porque reúne os maiores sucessos deles. É só procura no youtube Soda Stereo: El último concierto.

Se você tá pensando que o sucesso deles não chegou no Brasil, se enganou. Os Paralamas do Sucesso fizeram uma versão em espanhol de uma música muito famosa deles. E o Capital Inicial também, mas a deles é em português e não traduz fielmente a letra, inclusive, é muito ruim comparada a original.



Quase 10 anos depois, o Soda Stereo resolveu fazer uma turnê, chamada Me verás Volver. Também é um ótimo cd pra escutar. Os ingressos iam se esgotando, acabaram fazendo mais shows do que o previsto e novamente o Soda voltava aos holofotes do mundo da música.

Sei que rola um certo preconceito com o rock em espanhol, pode até ser diferente do rock que estamos acostumados. Mas a qualidade musical e das letras do grupo realmente me fizeram colocar a banda como uma de minhas preferidas.

Gustavo Cerati


Cerati era vocalista da banda. Também seu principal compositor. Mesmo enquanto estava no Soda, e depois que a banda terminou, ele lançou 5 cds solos. Sucesso outra vez. Gustavo era excelente com as palavras mas também era um músico incrível. Pra conhecer um pouco, eu sugiro o cd Fuerza Natural. É ótimo.

Mas, em 2010, Gustavo teve um AVC, em um show na Venezuela. Ficou mais de quatro anos em coma, e causou grande comoção em todo o continente.

Em 2014, ele faleceu, em Buenos Aires, sua cidade natal. Lembro que estava em Bogotá essa época e foi realmente absurda a comoção geral, na tv, na rádio, as pessoas. Baires quase parou pro velório dele, foram homenagens atrás de homenagens. Shakira, U2, Roxette, e até o Grammy latino pararam pra cantar e homenagear as musicas dele (experimenta colocar #cerati no instagram e você vai ver o amor que as pessoas tem pelo cara).

A boa notícia pra quem gosta da banda (EU!) é que o Cirque de Soleil está preparando pra 2017 um show em homenagem a eles. Sim, depois de Michael Jackson e Beatles, o circo está fazendo um show todinho em cima das musicas deles.

Muito provavelmente eles não venha pro Brasil com esse show, e muito provavelmente (amém) eu já estarei em Baires quando isso acontecer, somando ao fato de que eu sempre quis ir no Cirque de Soleil, e AMO Soda Stereo, imaginem uma pessoa FELIZ nesse momento.



Homenagem mais incrível que essa impossível. Que pena que o Gustavo Cerati não está mais aqui pra poder assistir.










Cheguei na Argentina a tarde. Não entendia bulhufas do que o povo falava no aeroporto, senti um desgosto enorme por haver esquecido das aulas de espanhol do colégio, mas fui seguindo o fluxo, afinal aeroportos não eram uma zona conhecida pra mim.

Meu primeiro perrengue foi na imigração. Me perguntaram onde eu ficaria. Hoje eu sei que poderia ter dito qualquer hotel e pronto, mas não, quis explicar pro cara que eu ficaria na casa de umas meninas que eu nunca vi na vida em um bairro muito bom na rua Callao. Exibindo meu bom portunhol, eu dizia "calhao", coisa que na Argentina seria mais como "cajao". Graças a Deus o cara desistiu e me carimbou o passaporte. Fui andando e pensando "ufa, ainda bem que a dona da assessoria é brasileira". Quando saio, um cidadão com uma placa com meu nome soltou logo um "Hola Nathalia". Já entendi que eu PRECISAVA aprender logo espanhol, porque não era tão fácil quanto a gente imagina.

Pegamos um táxi e fomos até o apartamento. Fiquei olhando a cidade maravilhada. Passamos pelos bosques de Palermo, e a arquitetura de lá é o que mais chama atenção. A primeira impressão que tive da cidade, você pode conferir nesse post.

Conheci as meninas com quem ia dividir o apartamento, e eram todas brasileiras. Hoje, apenas duas delas seguiram lá, estudando medicina. As outras foram voltando aos poucos. Lembro que cheguei, liguei pro meu pai e chorei. Chorei muito, sentada na minha nova cama, na minha nova casa, perdida, feliz, com saudade, com medo. Ele não falava nada, só me ouvia. Foi essa sensação que me segurou lá por muito tempo: eu sei que ele tá lá pro que eu precisar, mesmo longe, mesmo sem falar nada.

Uma das meninas fazia o curso de espanhol na mesma escola que eu. Enquanto fui fazendo os tramites do DNI, ia cursando as aulas, e ela me ensinou a chegar na escola e voltar. O curso de espanhol era um curso livre, sem muito material didático, mas era uma escola grande, onde eu conheci gente do mundo todo e os professores eram de muitos países diferentes. Depois de um tempo optei por fazer aulas particulares, mas porque eu tinha pressa em aprender, afinal muitos brasileiros que vivem lá há muito tempo não sabem falar espanhol, e eu definitivamente não queria me acomodar.

Eu no curso com uma americana, um londrino, uns brasileiros e o professor argentino mais querido, Gérman.


Depois de uns 3 dias que estava lá, uma das meninas me chamou pra caminhar. Fomos a pé a muitos pontos turísticos, e terminamos em Puerto Madero. Cada quarteirão que a gente andava, eu me apaixonava mais. Não dá pra explicar, mas eu simplesmente me sentia muito feliz ali. Conheci um pouco dos lugares, ela me ajudou a me locomover pela cidade, me ensinou as palavras básicas pra poder fazer compras e me fez sentir menos deslocada.

Tive muita sorte de conhecer meninas que foram legais comigo, que me ensinaram muitas coisas e principalmente, que me levaram pra todo lado. Lembro bem da primeira noite que sai, fomos na Pachá. Não é a melhor coisa de Buenos Aires, mas confesso que é muito lindo o lugar. Ela fica na Avenida Costanera, nas margens do Rio de La Plata. Tem muitas baladas por lá, a vista a noite é incrível, e a grande novidade foram os horários e o transporte. Fomos de ônibus, saímos depois da meia noite e eramos 4 mulheres. Esse dia comecei a entender que eu era uma mulher saindo a noite com as amigas, e que eu não precisa dizer que estávamos sozinhas. Lá é muito seguro, saí muitas vezes pra encontrar meus amigos tarde da noite, e essa sensação eu nunca tive vivendo em São Paulo.

Pachá Buenos Aires

Esse dia conhecemos muita gente, nem sempre é assim mas algumas vezes eu senti isso na noite de Baires, você faz amizades sem necessariamente ser xavecada. Bom, se existe algo que me arrependo é de não ter feito mais amizades argentinas. Fica a dica, você fora do seu país sempre vai procurar seus conterrâneos, é mais fácil de se relacionar e você se sente mais seguro. Mas não é a melhor opção sempre. Isso dificulta o aprendizado da língua e te limita muito a conhecer os costumes das pessoas de outro país. Então é bom saber dosar, não perca a oportunidade de conhecer outras pessoas e não frequentar só festas brasileiras, se possível busque estrangeiros pra dividir apartamento.

Aos poucos fui ficando mais independente. Além de ter um ritmo muito diferente do delas (elas estudavam pro CBC) o que eu queria mesmo era conhecer tudo e poder estar sozinha. E em pouco tempo eu já tinha me perdido o suficiente pra conhecer a cidade, já havia falado todas as bobagens em espanhol que podia e já podia me alimentar ou comprar algo sem fazer sinais! No fundo, a chegada não foi tão traumática quanto a despedida. Eu estava realizando um sonho, eu tinha conquistado tudo aquilo com esforço meu, e Buenos Aires é muito fácil de se apaixonar. Ficou fácil.

Algumas coisas que não falei, tipo alugueis, mercado, contas, prefiro fazer em posts separados, pois merecem muita atenção, e também porque as coisas mudaram muito de lá pra cá.







Como eu contei no meu post anterior sobre a decisão de viajar, depois de definido destino, tive que partir pra parte prática da coisa. Primeiro, dinheiro.

Eu sabia que meus pais me ajudariam caso eu passasse algum perrengue por lá, mas todo o resto era por conta própria. Na época eu trabalhava em uma agência, e tinha um freela mensal com um amigo, que me pagava bem. Fiz as contas de tudo o que era necessário pra eu viver, e como eu morava com meus pais, quase não tinha despesas. Basicamente funcionou assim: eu somava meu salário e meu freela (e algum trabalho eventual que eu conseguia as vezes) e descontava os gastos diários, contando transporte, cigarro, celular, e cartão de crédito. Assim, eu tive noção de que todo o resto eu gastava em nada! Sério, quando você coloca na ponta do papel percebe o quanto você não sabe pra onde vai o dinheiro.

Depois, separei uma grana por semana, que seria pra sair com os amigos ou viajar. No começo me limitou muito, mas depois entendi que na verdade isso me dava muita liberdade, porque comecei a estabelecer prioridades e eu já saia de casa sabendo o quanto eu podia gastar. E se eu queria gastar muito, tinha que ficar o sábado em casa. Feito essas contas, eu sabia quanto eu poderia guardar por mês e consegui prever quando eu teria a grana necessária. Foi um ano economizando e pensando "é pelo meus sonho que eu vou deixar de fazer isso hoje".

No meio do caminho, sempre que sobrava uma grana, eu simplesmente não gastava tudo, eu comprava algo que precisava. Sim, você precisa de uma mala grande (ou duas, porque casacos de frio são pesados e na Argentina você vai precisar), tive que arrumar o computador pra poder trabalhar a distância, me preparei pro frio de -2 graus comprando desde meias até sobretudo, sempre de olho em promoções e descontos. Também tive que fazer o passaporte, que na época saiu uns 400 reais eu acho, já que o mais longe que eu tinha viajado tinha sido até Porto Seguro na formatura do colegial.

Depois, decidi contratar uma assessoria para legalizar meus documentos. Quase todo mundo que vai pra Baires faz isso, pois bem. Na época eu não conhecia ninguém que vivia lá, e o Facebook não era tão popular quanto hoje. Resultado: paguei pouco mais de 2000 reais pra uma assessoria que no fundo, eu nem sabia se existia. Graças a Deus eles existem, e o pacote incluía DNI, legalização de diploma, translado do aeroporto até a casa onde eu ia morar e 2 semanas de um curso de espanhol.

Chegando lá percebi que você pode fazer o DNI sozinho, como eu conto aqui, porque o máximo que eles fizeram foi marcar meus turnos e me acompanhar até os lugares porque você precisa fazer os tramites pessoalmente. Como publicitária eu não preciso legalizar diploma pra trabalhar lá, e olha que deu um certo trabalho. Tive que traduzir, juramentar, mandar pra lá e pra cá, mandar pro Ministério da Educação, e hoje tenho um diploma e os certificados de conclusão do colégio todos furados, assinados e carimbados. Então pesquise bem se realmente é necessário que você faça algo do tipo antes de ir.

Eles me indicaram uma casa, onde viviam 4 brasileiras. Falei com elas por Facebook algumas vezes, na verdade eu ficaria no lugar de uma menina que estava se mudando pra Rosário. Não tinha ideia do bairro, se os preços eram altos ou não, nem me explicaram bem sobre os valores das contas ou da vida lá. Eu confesso que fui um pouco no escuro, mas eu não tinha medo. Eu tinha grana e poderia me mudar da casa quando quisesse, ir pra qualquer lugar. Haviam outras opções, como hostels e casas para estudantes, mas eu queria liberdade, privacidade e segurança. Não queria ir pra algum hotel e ficar pensando em sair rápido e procurar apartamento, decidi ir direto pra esse lugar. Ah! A assessoria não teve nada a ver com isso, eles só me passaram o contato das meninas, porque uma delas havia viajado através deles também.

O grande dia foi quando comprei as passagens. O que me confortou muito, foi que eu comprei as passagens de volta pra 4 meses depois, pois eu tinha um casamento de um grande amigo de infância e não poderia deixar de ir. Dar a noticia pra família foi pior do que dizer que queria viajar. Meus pais riram meio inconformados, meus amigos não acreditavam e o que eu mais ouvia era que ainda tinha bastante tempo até eu viajar.

Mas passou rápido e depois de uma despedida regada a churrasco, cerveja e todo mundo que eu gostava reunido, eu arrumei as malas e fui. Viajei bem cedo, praticamente passei a noite em claro. A minha melhor amiga ficou comigo. A gente se conhece desde pequena, são 22 anos de amizade e ela me acompanhou até o último minuto. Despedir-se da família dói, mas quando você vê um amigo seu chorando, ainda mais no aeroporto que já tem um clima de despedida no ar, você sente algo se quebrando.

Minha despedida foi a melhor parte!

Quando eu virei as costas no aeroporto, eu senti como se algo estivesse sido cortado. Como uma ligação mesmo, ou o cordão umbilical, não sei. É como se você se sentisse livre, mas você sabe que perdeu algo. Eu sabia que não iria voltar mais pra casa, que eu não seria a mesma pessoa. Sabia que estava rompendo o laço da infância, da adolescência também. Mas a família é sempre nosso porto seguro. Minha mãe seria sempre minha mãe, meus irmãos estariam lá quando eu voltasse, meu pai foi quem me abraçou e disse que qualquer coisa era só eu voltar. Eles não iam esquecer de mim.

Mas os amigos, esses ficam um pouco. É como se você rompesse alguma coisa entre você e cada um deles. Você vai perder histórias, bares, viagens. Você não vai estar lá quando sua amiga chorar, nem quando ela arrumar outro namorado. Você não vai ter pra quem contar algo que você descobriu estando fora, e o tempo vai passando. Senti muito medo de ser esquecida.

Um amigo me disse que é muito mais difícil pra quem fica. Porque o seu espaço fica vazio, você faz falta. Quando você tá longe você faz novos amigos, tem uma nova rotina, mas quem fica vai sentir sempre a nossa falta. E isso me fez pensar que com o tempo esse lugar que era meu, não ia mais existir. Mas eu queria ir, eu precisava, e fui.

Hoje, depois de 3 anos fora do país, percebo o quanto é difícil se readaptar. Por isso, seja pro Senegal ou pro Chile, você tem que estar muito seguro da mudança e da loucura que é sair da zona de conforto. Mas também entender que há muita beleza nisso, muito crescimento pessoal, auto conhecimento e principalmente que é gratificante você perceber que pode muito mais do que imagina. Que você vai se sentir deslocado, fora ou no Brasil, e que isso é bom porque faz você se mexer, sabe? E que você pode não ser mais parte das histórias dos amigos, mas será sempre parte da história deles. E no fim isso é o que importa.








A decisão de viajar pode parecer fácil, mais fácil do que a mudança real, mas quando você começa se dá conta de que existem tantas possibilidades, tanta coisa pra resolver que pode ficar muito fácil desistir de tudo. Eu já falei aqui sobre coisas básicas pra se ter em conta antes de qualquer viagem, mas hoje quero contar sobre a minha decisão em particular.

Diferente da maioria dos brasileiros que estavam lá, eu não fui para Argentina fazer faculdade. Eu já era formada em publicidade, desde 2008. Desde a faculdade eu tinha o sonho de morar fora. A única certeza que eu tinha era essa. Ah, e que eu queria aprender espanhol. Nunca fui fã do inglês, na minha profissão ele nem conta muito e eu tenho até hoje muita dificuldade com o idioma. Até cogitei ir pra Londres, mas eu me atraia muito mais pelas fotos do que por algum relato de alguém que vivia lá.
Juntando Europa e espanhol, eu comecei a me programar para ir pra Espanha. Meus avós são portugueses, busquei muita informação sobre a dupla cidadania, meu avô inclusive me trouxe um documento de Portugal que tinha tudo o que eu precisava: certidão de nascimento, casamento, óbito da minha avó e o registro da vinda dele pro Brasil. Mas, eu precisava que um parente direto, vulgo meu pai, também tivesse a cidadania.

Meu pai nunca foi a favor de que eu viajasse, a minha mãe apesar de parecer feliz com a ideia, no fundo não achava que eu faria tudo o que eu fiz. Em resumo, não consegui a cidadania, e isso complicaria muito a minha viajem. Na época (2011-2012) a Europa passava por uma crise, e estava dificultando e muito a entrada de estrangeiros. Brasileiros então, nem se fala. Havia muitas histórias de brasileiros que eram deportados, mesmo cumprindo as exigências deles: ter uma quantia enorme de euros da conta e a passagem de volta comprada.

Foi depois de muita pesquisa que entendi que havia muitas alternativas, diferentes dos destinos tradicionais. África do Sul, República Tcheca, Nova Zelândia e América Latina. Também entendi que contratar uma empresa de intercâmbio não era o que eu queria. A intenção não era essa, eu queria ter mais liberdade quanto ao lugar onde eu ia viver e estudar. Acho que hoje em dia é muito mais fácil você se mudar sem essa ajuda, pois com a internet, blogs, grupos em redes sociais você consegue todo tipo de informação e até conhece pessoas que te ajudam com isso.

Eu nunca havia saído do país. Sempre rola um preconceito quando a gente pensa em América Latina, eu não conhecia nada, só ouvia história de viagens estilo mochilão, de montanhas, hostels e Machu Pichu. Então, estudar espanhol em algum país daqui me parecia uma loucura. É uma pena, porque a gente (sim, apesar de muitas diferenças, o Brasil faz parte disso) tem muita história e somos um povo muito receptivo, pelo menos nos poucos países que conheci no caminho.

Mas a Argentina era o destino principal de toda pesquisa. Tudo me levava a Buenos Aires. Acho que pelo seu “ar europeu” a Argentina sofre menos esse tipo de preconceito. Confesso que não foi nada disso que me atraiu, fui muito mais pelo custo de vida, proximidade, estilo de vida e pelas oportunidades. Também foi mais fácil me decidir porque um amigo meu (o mesmo que me influenciou a fazer publicidade) já tinha vivido lá. Ele me falou sobre os cursos de criação publicitária, sobre as agências e sobre o quanto isso poderia fazer bem pra minha carreira. Era a opção perfeita.

Agora eu precisava organizar mais algumas coisas: juntar dinheiro, escolher datas e passagens, procurar informações sobre a documentação, decidir que curso fazer. Me lembro que não tinha ideia de quanto tempo ficaria, nem o que faria por lá. Minha decisão foi muito mais pelo lado pessoal do que pelo lado profissional. Eu já estava economizando há algum tempo, tinha inclusive uma tabela para organizar meus gastos. Fiz alguma conta rápida e decidi que quando chegasse a determinada quantia, eu ia embora.

No meio disso tudo, meu pai ficou doente. Isso atrasou minha viagem em alguns meses. Mas também me fez pensar que se eu já tivesse viajado, não estaria com ele. Me fez pensar que você pode estar longe quando alguém precisar de você, ou você precisar de alguém. Me fez repensar família, amigos, vida e tudo mais. Foi difícil manter a decisão depois de tudo isso porque estando longe, além de perder bons momentos, você também pode perder alguns maus momentos, ou perder pessoas. Viajar é um ruptura grande não só com amigos e relações, mas com o falso conforto que a gente sente por estar ao lado de pessoas queridas o tempo todo, e as vezes não paramos pra pensar que coisas ruins podem acontecer com elas. Estar na Argentina seria estar a duas horas de São Paulo, com passagens que não eram caras na época, e isso me ajudou muuuuito a decidir. Graças a Deus meu pai ficou bem, todo mundo ficou bem, e eu pude ir tranquila pra lá.

Na verdade, eu queria muito viajar. Eu realmente precisava naquele momento mudar de ar, de cidade, estar sozinha comigo mesma. Eu queria viver outra coisa, descansar do trabalho, desfrutar o esforço de deixar de fazer tanta coisa pra economizar mais um pouco aqui e ali. Eu fui pra me conhecer, e conheci tanta coisa e tanta gente, fui parar em Bogotá, e no fim tudo valeu a pena.

Eu conheci muita gente que voltou. Muita gente que mudou de rumo lá mesmo. Gente que tá lá até hoje. Mas conheci muita gente que não sabia o que fazer. Você vai ler muita coisa antes de ir, pode falar com pessoas que adoraram fazer intercambio, com gente que vive em outro país e ama, mas a decisão é muito pessoal, e nem tudo são flores. Primeiro tem que querer de verdade ir embora. Tem que querer muito, porque você vai estar sozinho. Você aprende a cozinhar, a andar sozinho, você precisa falar com pessoas em outro idioma, você vai fazer mil coisas que nunca fez, então você precisa amar sua decisão. Tem que estar seguro de que é isso que você quer. As vezes, Buenos Aires atrai muita gente por causa da faculdade sem vestibular, ou porque algum amigo passou o fim de semana lá e tudo pareceu muito barato. Não é bem assim, você tem que estudar muito, o portunhol não vai resolver sua vida e ir como turista é beeem diferente de viver lá.

Foto clássica em San Telmo.
Os personagens ficavam espalhados pelo bairro, mas a Mafalda é a mais conhecida e sempre tinha sempre uma fila enorme pra tirar foto com ela, e com os outros não. Agora eles ficam todos juntinhos aí.

Eu amo Buenos Aires, esse blog é pra ajudar as pessoas que querem ir mas também é pra me ajudar, pra escrever sobre tudo isso. Quero voltar, hoje muito mais consciente de tudo o que eu tenho que passar (de novo) pra poder ir, mas também com a experiência de ter ido a outro país, a Colômbia, atrás de algumas coisas que não funcionaram muito bem, de me sentir triste, insatisfeita, e de viver aquele momento que eu poderia ter evitado: quando a gente se dá conta de que não fez a melhor escolha, e que é melhor voltar atrás e recomeçar.







Conheci o Gio durante o curso de verano de criatividade. Desde de 2013, nos falamos apenas pela internet, mas posso dizer que nasceu uma amizade. Ano passado, em uma breve visita a Baires, pude reencontrá-lo, mas a situação era contrária: ele era quem estava morando lá, e eu a quem estava chorando pra voltar. Aqui segue seu pequeno relato sobre o amor que foi conhecer a Argentina, o seu vai-e-volta e a prova de que você pode e deve ir atrás do que faz seu coração bater mais forte.

Minha (nada) breve história com Bueno Aires

Como um amor à primeira vista, me apaixonei.
Foi em 2010. A vi ali da janela do primeiro avião que peguei na vida. Cheguei como turista, com mala e expectativas. Encontrei aí uma cidade tão perto da minha cidade, Porto Alegre, mas tão longe do estilo de vida dos brasileiros. Me fascinei pelo fascínio dos argentinos pela leitura, me encantei com os parques, me surpreendi pelo seu conhecimento em política e história e, no final, me visualizei neste estilo de vida. Voltei para a República Rio Grandense (rsrs) com uma vontade das coisas simples que já não eram permitidas em grandes cidades brasileiras, como o hábito de caminhar de madrugada pelas ruas, a variedade de cafés e livrarias, a sensação de segurança na maior parte dos lados e um transporte público de qualidade. Comecei a me ver como refém de minha própria Porto Alegre. Comecei a notar que o habitual já não era minha normalidade.

Como em um relacionamento que acaba, e o amor persiste, voltei.
Foi em 2013. Quando descobri que o final da faculdade estava chegando e queria viajar antes disso. Aliei esta viagem com o meu tema de TCC-roteiros audiovisuais. Descobri também o quanto vale a pena fazer cursos em Buenos Aires, custo-benefício incrível. Encontrei um curso de especialização em criatividade e, de quebra, comecei a fazer um curso de roteiros. Foram 3 meses, aqueles que estaria na praia, de férias. Foram 3 meses que mudaram minha ideia de vida. Voltei para Porto Alegre com um até logo gravado na cabeça. Voltei com tudo me irritando. Foi quando me dei conta que a frustração existia porque EU estava mudado. Eu era o problema. E a solução.

Me ajoelhei e pedi à cidade: casa comigo?
Foi em 2014. Depois de formado e depois de sair do meu emprego de forma não habitual, que me vi em uma Porto Alegre que não me dava tesão. Voltei para Buenos Aires, e amigos, que tesão. Aqui você encontra um estilo de vida que te permite. Estamos falando da capital latino-americana da cultura, da capital com maior número de livrarias per capita do mundo, da cidade que te permite chegar de bicicleta aonde quer que seja, que usa patins e skate como transporte, que tem busão 24hrs, que permite gurias caminharem sozinhas de noite, que permite comer 70kg de carne por ano, enfim, uma cidade que me fez ver um estilo de vida que buscava. Buenos Aires agora é minha esposa, depois de um ano na luta, consegui um trabalho em uma emissora de TV. Estou aqui pelo emprego, mas mais que isso, estou aqui tentando fazer um caminho diferente daquele que não encontrei em Porto Alegre. Buenos Aires te permite ser, conhecer, comer, fumar e andar como você sempre quis, como você sempre foi.




Giovani Giordani, 25 anos, Redator
Há um ano de mala e cuia na capital portenha

 P.S: me coloco a disposição de qualquer pessoa que quiser trocar uma ideia sobre estes momentos de vida ou simplesmente bater um papo sobre Buenos Aires.

Você pode mandar uma mensagem pelo Facebook do Giovani

No geral, Buenos Aires tem um ótimo sistema de transporte público. Apesar de alguns ônibus serem meio velhinhos, você ainda pode optar pelo metrô, táxi ou ir de bicicleta. Depende da sua necessidade, de gosto ou de disposição. É bem fácil andar por lá, mas umas dicas nunca são demais, né?

Primeiro, você pode saber como chegar ao seu destino baixando o aplicativo ou acessando https://mapa.buenosaires.gob.ar ou http://comollego.ba.gob.ar/ 

Sua vida será melhor com a Tarjeta SUBE! 



Lá existe uma espécie de bilhete único, o cartão SUBE. Qualquer um pode fazer, turista, estrangeiro, residentes, não importa. Diferente do bilhete único de São Paulo, ele não te dá descontos nas passagens, mas facilita muito a vida de quem usa ônibus ou metro.

Funciona assim:
Você compra seu cartão em qualquer posto, a lista você ve aqui: www.sube.gob.ar/centros-de-obtencion

Você pode recarregar com a quantia que quiser, nas estações de metro, nos kioskos, enfim, é muito fácil encontrar uma maquininha de recarga. De qualquer maneira eles também disponibilizam uma lista aqui: www.sube.gob.ar/centros-de-carga

Pronto! Agora vou falar um pouco sobre cada meio de transporte de lá.

Metrô (Subte)

A primeira linha de metro da América Latina foi a Linha A, inaugurada em 1913 em Buenos Aires. Quando eu vivia lá pude viajar nos vagões antigos de madeira, que foram trocados em 2013. Eram até bem conservados pra época, mas confesso que me davam um pouco de insegurança, afinal tinham mais de 100 anos.

Foto:UOL

De metrô você consegue se locomover por toda a cidade, mas pode precisar caminhar um pouquinho mais, coisa que em Baires não é esforço nenhum. Pra visitar os pontos turísticos, com certeza o subte é a melhor opção, sempre tem uma estação pertinho desses lugares.

Você pode ver todas as linhas nesse link: http://www.metrovias.com.ar/

O Subte fecha relativamente cedo, às 22:30h e abrem as 5h da manhã. Aos domingos abrem mais tarde, às 8h. No geral é bem organizado, apesar de sempre rolar uma confusão na catraca, já que você precisa conhecer o destino antes de passar por ela pra ir pro lado certo. Ah, em 2015 a passagem estava em 5,00 pesos.

Los colectivos (ônibus)





Eles são meio antigos, coloridos, e por dentro são customizados pelos motoristas. Assim são os chamados colectivos portenhos. Passam a cada 15 minutos, e funcionam 24 horas por dia!

A coisa mais diferente desses ônibus, é a falta de cobrador, e os valores relativos a distância que você vai percorrer. Você entra, diz ao motorista aonde você desce, e ele marca o valor correspondente na maquininha (com o tempo você acaba dizendo só o valor). Ai você paga o valor e recebe um "recibinho" de papel que confirma que você pagou. Na real nunca me pediram isso, mas não custa guardar até descer. Você só pode pagar as viajens em moedas, as máquinas não aceitam notas, por isso o SUBE facilita MUITO a vida.

Eles são marcados por números, e cada ônibus para em um ponto diferente, mesmo que tenham vários pontos no mesmo quarteirão. Tem que ficar de olhos nos pontos, tem plaquinhas que indicam quais ônibus param ali.

Táxi

Tem por todo lado, e como em qualquer outra cidade do mundo, por você ser estrangeiro, sempre bom tomar cuidado e usar um táxi de uma companhia conhecida, ou pelos aplicativos. Tem que ter muito cuidado também com troco, os taxistas de lá são famosos por dar notas falsas.

Bicicleta

As ciclovias de Buenos Aires são a coisa mais linda do mundo! Desde 2012 até 2015 (última vez que estive lá) a malha de ciclovias lindamente sinalizadas aumentaram bastante. As vezes que andei de bike por lá, senti muito respeito dos motoristas, inclusive dos ônibus, nos momentos em que precisei sair das ciclorutas.

Como a cidade é predominantemente plana, fica muito fácil não só dar uma voltinha como usar as bicicletas como principal meio de transporte.

O governo também oferece um sistema de bike gratuitas. Funciona de 3 maneiras: pela (abençoada) tarjeta SUBE, pelo aplicativo ou pelo telefone.
Aqui você le os detalhes de cada sistema http://www.buenosaires.gob.ar/ecobici/sistema-ecobici/como-utilizar-el-servicio

Mas basicamente é o seguinte: não importa qual forma você vai utilizar, o sistema acessa seu cadastro, libera uma bicicleta na estação e pronto. Você tem uma hora para entregá-la de volta em qualquer outra estação da Ecobici.
Se quer continuar o passeio, é só esperar 5 minutos na estação e seguir viagem. Uma vez esqueci do horário, passei mais de uma hora com a bicicleta e tomei punição de dois dias sem poder pegar outra! Nada demais, mas é uma boa forma de punir quem anda distraído.

Existem muuuitas estações, mas é sempre bom ter mais ou menos uma idéia de quantas estarão pelo seu caminho, né? Aqui http://www.buenosaires.gob.ar/ecobici/pedalea-la-ciudad você encontra isso.

Além disso, existem os trens, para fora da cidade, e a novidade do UBER, bom pra gente mas que nunca é bem aceito pelos taxistas, olha http://www.lanacion.com.ar/1883684-uber-convoco-a-choferes-para-lanzarse-en-la-ciudad

O que eu recomendo de verdade, é que você ande, ande muito. Aprecie todos os detalhes que puder. Olhe pra cima, entre nas ruas desconhecidas. Baires tem coisa linda por todo lado. Ah... e ande de bicicleta pelos bosques de Palermo pelo menos uma vez!

Seja qual for o motivo da viagem, saber como é o mercado de trabalho é sempre uma preocupação. Ainda mais quando a palavra que mais se escuta é “crise”.

Com crise ou não, sempre existe uma demanda de trabalho em restaurantes, hotéis, empresas de tursimo e bares. E pros brasileiros, fica muito mais fácil. O número de turistas brasileiros lá é enorme, e eles viajam em qualquer época do ano, às vezes passam o fim de semana. Assim, contratar alguém que fala português é um diferencial pra muitos estabelecimentos. Com o amor que os argentinos têm pelo Brasil, e depois da Copa, falar “portuguesinho” ficou na moda. Dar aulas particulares, ou até procurar uma escola pra lecionar também é uma opção rápida que pode dar certo.

Na área de publicidade, existem algumas diferenças: se você é diretor de arte, provavelmente lá você precise procurar uma vaga de designer, ou “diseñador”. Isso porque as agências lá funcionam no esquema de duplas. Um diretor de arte e um redator trabalham juntos, são normalmente contratados já como dupla e desenvolvem principalmente comerciais. Aí entre outra vantagem: a direção de arte brasileira dá um show nos Hermanos.

Para as outras áreas, existe um ponto positivo que são as empresas estrangeiras que investem muito no país, principalmente agora com a troca do presidente, se instalam lá pelos custos mais baixos, e algumas até preferem contratar freelancers que estão alocados no país, já que pagam em dólar, uma moeda que vale muito por lá. Assim, fica bom pra todo mundo.

Um setor que contrata muito brasileiro é o de telemarketing. Eles pagam bem, alguns oferecem até benefícios e dispõe de horários diurnos ou noturnos de trabalho. Fica tranquilo conciliar estudo e labuta.

Salário e contratações

O salario mínimo na Argentina hoje é de 6.060 pesos. Não dá pra viver apenas com isso hoje, principalmente pela inflação e o preço (absurdo) que estão os aluguéis. Mas com certeza quebra um galho, dá pra pagar quartos compartilhados, ou até um hostel. Se você espera os benefícios no fim do mês, esqueça. Nisso o Brasil é muito melhor. Não são todas as empresas aqui que fazem isso, claro, mas vale transporte, refeição, décimo terceiro, só aqui mesmo. Quando eu trabalhei em Bogotá, nenhuma empresa me pagou nada além do salário. Mas lá eu recebia décimo terceiro, além de um valor equivalente ao fundo de garantia, e outro valor que eram as cesantías.

Na Argentina é a mesma coisa. Portanto antes de mais nada, é preciso perguntar bem sobre os benefícios que a empresa está te oferecendo antes de firmar compromisso com ela, não é impossível, mas pode variar por não ser obrigatório.

Outra diferença é que o argentino não vive pra trabalhar. Não espere o ritmo brasileiro, de ficar até tarde sempre, trabalhar de fim de semana. Aqui no Brasil é muito mais comum ter essa rotina.

Onde procura

Existem alguns bons sites para procurar emprego. Aqui vou listar alguns deles, sem esquecer que o Linkedin lá é super forte, dá pra achar muita coisa bacana por grupos no face também.

Computrabajo
www.computrabajo.com.ar

Aqui você encontrar anúncios de emprego, e não precisa cadastrar nada. Você mesmo entra em contato com a empresa. Você encontra desde trabalhos em empresas, até vagas em bares e hotéis.

Zonajobs
www.zonajobs.com.ar

É grátis, você cadastra seu currículo e ainda acompanha se a empresa visualizou seu perfil ou não. Como todo site desses, fique de olho nos anúncios, e tome cuidado com avisos sem dados da empresa.

Bumeran
www.bumeran.com.ar

O mais completo e mais usado pelas empresas, acaba sendo o mais confiável. Como empresas pagam pra anunciar aí, mais difícil de entrar em furada.

ADLatina
http://www.adlatina.com/ofertas-laborales 

Ofertas voltadas pra agências de publicidade. Vagas de direção de arte, redação, atendimento. Vale a penas dar uma olhada nas vagas e na página pra conseguir contatos e conhecer as agências de lá. Manda o portfólio mesmo sem vaga sempre funciona

Consulado do Brasil em Buenos Aires
http://www.conbrasil.org.ar/consbrasil/anuncios.asp

Além de trabalho, dá pra encontrar referências de empresas, serviços e até currículos de pessoas que falam ou procuram quem fale português.

Mesmo com todos esses sites, é importantes lembrar que nem tudo são flores, desconfie sempre de toda e qualquer oportunidade fácil demais. Ser estrangeiro as vezes requer cautela em muitas situações.

E na hora de arrumar trabalho, assinar contratos ou oferecer serviços, fique de olho. Você está em outro país, longe da família, pode ser fácil cair em alguma furada pra conseguir um trabalho rápido. Cuidado também com questões de contratos. É tentador aparecer uma empresa que não exige quase nada da gente, mas no fim você termina trabalhando ilegalmente e pode sair com as mãos abanando.

Logo logo vai rolar alguns depoimentos de gente que está vivendo na Argentina aqui no blog, estudando ou trabalhando, assim vocês vão poder sentir bem como é essa experiência.
Esse texto foi escrito em 2012, logo que cheguei a Buenos Aires. Foi a minha primeira impressão da cidade.


A princípio, td me pareceu diferente demais. Começando pelo frio de matar. Depois, pelo cinza. Tudo é muito cinza, o que não faz da cidade nem um tico menos bonita nos dias nublados.
Tudo cinza!
Todos os lugares por onde você anda, tem alguma coisa interessante de se olhar. É uma cidade pra se caminhar sempre, e não esqueça de olhar pra cima. Os prédios, as construções.

 Aqui perto de casa, na Av Santa Fé, tem um prédio residencial, e bem no topo, tem um totem, um rosto, uma espécie de carranca (necesito sacar una foto!). Se eu não andasse olhando pra cima, perderia esse detalhe, e os passeios não seriam tão legais.
A cidade é linda. Não é sempre cinza. Não é depressiva. Na verdade, tudo parece ter muita vida, apesar dos porteños serem bem mais sérios do que os brasileiros. Mas, se abraçam mais. Acostume-se a ver os homens se abraçando e dando beijo no rosto um do outro quando se cumprimentam.

Casa Rosada
Os prédio são muitos antigos. São misturas de diferentes estilos de arquitetura. É comum ver um prédio de vidro super moderno ao lado de um prédio bem velhinho, bem conservado, cheio de arabescos. As portarias são quase todas iguais: grandes portas, vidros grossos, maçanetas gigantescas douradas, e sempre muito pesadas. Embaixo dos prédios antigos tem os comércios, lojas, cafés, cafés e mais cafés! No começo era bem horrível, mas já me acostumei ao "chafé" servido pelos porteños.

Outra coisa bem legal é a Casa Rosada a noite, que fica toda roxa e rosa. Em frente, sempre uns cartazes, e uma grades. A polícia monta quando tem os famosos cacerolazos (muito frequentes), assim o povo fica numa distância segura da Casa do governo.

Colectivo de BsAs: cada um com uma decoração diferente
Pra mim, BsAs é meio retrô, e cheia de contrastes. No meio de cafés e livrarias, se conservam as arquiteturas antigas. No meio de tanta gente usando bicicleta pra trabalhar, uns coletivos absurdamente diferentes e velhos (certa vez tomei um coletivo onde tinha um painel enorme com os machadinhos do TheWall e um relógio com o prisma do Pink Floyd). Máquinas pra recarregar o celular, o cartão Sube (tipo um bilhete único), ou até pagar contas, tudo dentro dos famosos kioscos, onde se vende de tudo um pouco: desde chocolate até cerveja. É uma banca de jornal sem revista. E o melhor é que cada dia, percebo uma coisa meio maluca pra mim, e me faz gostar mais daqui.



De uns anos pra cá, tem surgido muitas escolas de criativos pelo mundo. São cursos que variam muito o tempo de duração e não são uma pós, mas uma especialização que têm um grande peso no currículo de qualquer criativo.

Seja você redator ou diretor de arte, ou até mesmo um planejamento, entrar em uma dessas escolas pode acrescentar e muito na vida profissional. E conhecer a criatividade de outro país, conta muito mais.

As aulas nunca caem na rotina. Independente do exercício, a ideia é sempre fazer os alunos saírem do comum, pensarem além do óbvio, além de colocar você pra pensar e fazer coisas muito além da propaganda.

A Argentina é muito famosa pela sua publicidade, seus comerciais cheios de humor e seus muitos prêmios no meio publicitário. Por isso Buenos Aires tem sido muito procurado por esses profissionais, que querem além de um upgrade no currículo, um tempo para montar um portfólio de dar inveja dentro que qualquer agência.

Essas são algumas das escolas mais conhecidas, algumas inclusive já tem sede no Brasil:

Brother Escuela de Creativos



A "Escola de criativos mais premiada do mundo" tem sedes em quase toda América Latina, e na Espanha.

Foi lá, numa portinha escondida no meio de Palermo, que eu fiz meu curso de verão, o chamado "Summer School" em 2013. Com duração de 2 meses e com aulas todas as noites, o Summer School é um curso rápido, mas não decepciona.

Também dá pra fazer o curso anual, de mais ou menos 9 meses. Esse sim é super indicado pra quem quer arrumar uma dupla e montar um mega portfólio.

Esse ano a Brother lançou um curso de Criatividade digital e inovação, com duração de 8 meses.

Dá pra saber tudo sobre os cursos e sedes no facebook ou na página deles:
https://www.facebook.com/BrotherEscuelaDeCreativos


Underground



A Underground é escola membro do Circulo de Criativos Argentinos, e conta com professores que são nomes muito conhecidos no cenário publicitário argentino.
A escola também oferece cursos curtos ou mais longos, inclusive cursos mais específicos, de Escrita Criativa ou Roteiro, por exemplo.

Eles não tem sede no Brasil, só na Argentina, Colômbia e Peru, e as aulas têm um perfil mais sério, com exercícios mais publicitários, ideal para quem quer estudar sem sair do clima profissional.

http://www.undergroundad.com/


Escuela Superior de Creativos




Conhecida como "La Escuelita", ela oferece cursos de pós-graduação, workshops, além do curso de 9 meses, também para orientação e montagem do portfólio, pra poder bater na porta de qualquer agência sem passar vergonha.

Lá também dá pra fazer o curso profissional de 3 anos, como uma faculdade de publicidade, mas totalmente voltada a criatividade, inovação e formação estética e cultural.

A Escuelita também oferece cursos a distância, curtos e independentes ou até mesmo uma graduação de 3 anos.

http://www.escueladecreativos.com.ar/


Outra alternativa pra quem quer estudar criatividade na Argentina, ou em qualquer outro lugar, é procurar por cursos curtos ou de férias em algumas universidades. Em Buenos Aires, a Universidad de Palermo é bem renomada inclusive para quem tiver interesse em se formar na Argentina.

Outra opção é a famosa Miami Ad School, que também tem sede lá e oferece muitos cursos e é uma excelente escola, apesar do preço bem alto.

No geral, os cursos de criatividade na Argentina tem um preço bem acessível pra nós, já que o real vale bastante por lá, mas o melhor de tudo ainda é ter uma experiência fora do Brasil. Eu mesma estudei com bolivianos, chilenos, brasileiros, colombianos e peruanos. Talvez toda esse intercambio de ideias e de distintas maneiras de pensar seja o mais importante.

Apesar do número grande de brasileiros nesses cursos, eles são todos em espanhol, e ninguém vai te ajudar muito se você não conseguir entender algum conteúdo. Não se engane, dê uma estudada antes de ir. Não é nada difícil acompanhar as aulas, mas chegar lá só com o portunhol, pode atrapalhar um pouco o começo do curso.

Mesmo com indicação de alguém, vale muito a pena dar uma pesquisada no que cada escola oferece, valores, conteúdo dos programas e as aulas de cada um. Com tanta opção pode ficar difícil escolher, mas com certeza dá pra encontrar alguma coisa que se encaixe bem no que você quer e precisa.

Lembrando que muitas agências vão buscar novos profissionais nessas escolas, então quem sabe depois do curso não rola até um trabalho na terra dos hermanos?

Se você é brasileiro, não precisa se preocupar muito pra legalizar sua situação na Argentina. Por causa do Acordo do MERCOSUL, os brasileiros têm direito a ficar 60 ou 90 dias como turista, inclusive você pode entrar no país apenas com o RG. Depois disso, vai precisar pedir sua residência no país, e receber o famoso DNI.

DNI é registro Argentino, como o nosso RG. Com ele você pode trabalhar, abrir uma conta bancária, entrar e sair livremente do país como residente, e não mais como estrangeiro.

É um tramite muito chato. Quando eu fui, em 2012, paguei uma empresa de assessoria estudantil para fazer isso pra mim, incluindo a legalização do meu diploma. Hoje entendo que eu não precisava disso, você consegue fazer tudo sozinho e sai muito mais barato. Inclusive, o máximo que eles fizeram foi reunir meus documentos, me orientar sobre os processos e me acompanhar no dia do pedido, já que isso deve ser feito pessoalmente por quem solicita o visto.

Você pode fazer o pedido do Brasil. Os valores são altos, cobrados em dólar e não são todas as cidades que têm consulado Argentino. Aqui você encontra a lista de consulados no Brasil: http://www.consulados.com.br/argentina/

Para fazer o pedido estando na Argentina, você vai precisar de alguns documentos, marcar os turnos pela internet e um pouco de paciência.

Documentos
Primeiro, você precisa reunir o seguinte:
 2 fotos 4x4
 RG ou Passaporte original
 Antecedentes criminais brasileiro
 Antecedentes penales argentino
 Certificado de domicílio
 Taxa de residência (como tudo na Argentina, o preço muda, consulte altes nesse link: http://www.migraciones.gov.ar/accesible/indexN.php?residencias_ingresos

Como tirar esses documentos
Antecedentes criminais brasileiro
Essa é a parte mais simples. Você precisa entrar no link da Polícia Federal, preencher seus dados e solicitar a certidão. Ela vale por 90 dias.
https://servicos.dpf.gov.br/sinic-certidao/emitirCertidao.html

Você imprime, e leva ao consulado brasileiro. Lá eles validam o documento, o que pode demorar um ou dois dias. Não tem custo, é só levar e buscar.

Antecedentes penales argentino
Não se desespere. Os documentos argentinos não dão muito trabalho.
Primeiro você precisa marcar o turno:
http://www.dnrec.jus.gov.ar/Turnos/

Esse dia você escolhe em quanto tempo quer retirar esses documento (em  5 dias ou em 24 horas), pagando um valor diferente para cada um.

Depois, você usa o seu código para marcar o turno na Migraciones e acessar esse link e imprimir seu certificado:  https://www2.jus.gov.ar/rnr-certificado

Certificado de domicílio
Esse é o mais simples. Você só precisa ir até a delegacia (comisaria) mais perto da sua casa, e solicitar o certificado. Parece que até hoje a taxa é de $10 pesos (ufa!).

Em até 24 horas a polícia vai até a sua casa deixar esse documento. Me lembro que tive que deixar o meu RG na portaria do prédio no tempo em que fiquei fora de casa esse dia, pra poderem deixar meu documento lá. Eles não revisam sua casa, nem te pedem nada, mas em teoria, vão até lá pra confirmar seu endereço.

Aqui você pode procurar qual é a delegacia que corresponde ao seu endereço:
http://www.buenosaires.gob.ar/areas/seguridad_justicia/seguridad_urbana/comisarias_bomberos/?menu_id=21216

Marcando o turno
Agora você precisa marcar seu turno. Pelo que vi, até hoje essa data é muito incerta. Meu turno na época saiu super rápido, meu DNI chegou antes do de muita gente que já estava lá há mais tempo. Segue sendo uma questão de sorte ou um logaritmo muito confuso. Boa sorte:
http://www.migraciones.gov.ar/accesible/indexN.php?dni_extranjeros
Depois, é só aparecer no dia e hora marcados com seus documentos na mão, e sair de la com a PRECÁRIA.

Esse documento é apenas um comprovante temporário, que indica que seu DNI está em processo. Como na Argentina você pode entrar  só com RG, não tem necessidade de usar esse documento na rua, por exemplo. Guarde ele até seu DNI, no endereço que você apresentou no comprovante de residência, em até 90 dias.

No dia do turno, você diz qual sua intenção no país, e eles te dão o visto de acordo com isso. Existe o visto temporário de 2 anos, e o permanente, de 15. Eu mesma posso voltar pra lá feliz e despreocupada até 2027!
Boa sorte!


Consulado do Brasil (Buenos Aires): Carlos Pellegrini 1363 - Buenos Aires, Capital Federal. Tel.:011 4515-6500
Consulados Argentinos no Brasil: http://www.consulados.com.br/argentina/
Migraciones: Avenida Antartida, 1355 -  Buenos Aires, Capital Federal.


Existem muitas razões para mudar de país. Alguns vão atrás de melhores oportunidades, outros para aprender um idioma. Alguns para estudar. O importante é ter muito claro seus motivos, conhecer bastante sobre o país de destino e se programar bem pra não fazer uma escolha errada.
Seja qual for a sua vontade, existem alguns pequenos conselhos que valem pra todos. Muito além do preparo financeiro ou dos passaportes, é importante entender que é uma experiência também muito difícil, que suas razões devem ser muito fortes e ter certeza de que essa é a melhor decisão, de acordo com o que você quer.

A vida de estrangeiro X vida de turista
Antes de tudo, você precisa saber sobre o país que você quer ir. Leia muito, entre em contato com pessoas que vivem lá, ou que viveram. Normalmente o brasileiro que mora fora costuma ser bem solicito a ajudar os outros brasileiros. Eu sempre tive boas experiências quando fazia contato com essas pessoas. Elas têm outra visão, diferente da de um turista. Elas pagam contas, conhecem as burocracias, trabalham, sabem como é ser estrangeiro, estão acostumadas com a rotina de acordo com a cultura do lugar. Isso faz toda a diferença quando você chega.

Você pode achar o país lindo, tudo funciona bem e a economia é estável. Mas viver lá pode não ser tão fácil assim. Em alguns países, conseguir emprego não é fácil para um estrangeiro. Em outros, como no caso da Argentina, o fato de você falar português ajuda muito, principalmente se você estiver disposto a trabalhar como telemarketing, ou como garçom em algum restaurante turístico. Existem muitas vagas nessas áreas para nativos em português, mas também já encontrei muitas vagas pra brasileiros como atendimento ou social mídia em agências de publicidade, por exemplo.

Outro ponto importante é o custo de vida. Mesmo se você for com suas economias, ou se você vai receber uma grana mensal enviada do Brasil, você precisa entender bem como é a vida lá. Faça as contas: aluguel, transporte, comida, despesas, curso, enfim. Converta tudo pra nossa moeda e analise quanto tempo você sobrevive lá com isso e sem trabalho. Sim, porque com certeza você vai ficar um tempo percorrendo a cidade até se adaptar, encontrar um bom lugar pra viver e um trabalho legal.

Vistos e passaportes
Outra coisa muito importante, é entrar no país legalmente. Alguns países exigem, além do visto, que você tenha uma grana no banco, passagem de volta e até documentos de matrículas ou comprovantes de residência. Felizmente não é o caso da Argentina.

Para entrar lá você não precisa de visto. Você ganha 90 dias por causa do acordo com o MERCOSUL. Por causa dele também fica muito fácil pedir residência. Você só precisa reunir os papéis que eles exigem e pedir o DNI. (Veja mais sobre o visto no post Como tirar o visto na Argentina).

Dependendo do país esse processo pode ficar até meio caro, então é importante levar tudo isso em conta antes de ir. Além do que você já pode sair do Brasil com todos os documentos exigidos pra não perder tempo. Em alguns casos, é possível tirar o visto no Brasil, na embaixada do país de destino. Na Colômbia, por exemplo, você pode ir ao consulado do Brasil, e em alguns dias você recebe seu RG em casa, deixando pra tirar aqui somente o CPF.

Escolha certa
Despois das questões mais práticas, você precisa ter certeza da sua escolha pessoal. É preciso estudar bem o processo: esse país é mesmo a melhor opção para o que eu procuro? Eu realmente preciso de uma mudança tão grande pra realizar esse sonho?

Quando eu fui para Argentina, tinha pouca coisa muito clara. Eu sabia que queria sair do Brasil, passar uma temporada sozinha. Eu precisava mudar de ambiente, e sempre sonhei em viver fora daqui. Minha primeira opção era Espanha. Eu sabia que queria estudar espanhol, isso eu tinha certeza. Devido aos problemas burocráticos da época (entre 2011 e 2012 as relações entre Espanha e Brasil andavam meio balançadas, e eles exigiam mil coisas pra você pode entrar no país, e estavam deportando muitos brasileiros), acabei optando pela Argentina. Lá eu precisaria de menos dinheiro, é muito mais perto de casa, e eu ainda poderia estudar criatividade em alguma escola de publicidade, e a escolhida foi a Brother (eu falo mais sobre isso neste post). Um amigo me ajudou muito na escolha, ele já tinha vivido lá e me aconselhou a ir.

Não poderia ter feito escolha melhor, até porque hoje meu objetivo é voltar. Simplesmente me apaixonei, mas posso dizer que passei alguns perrengues. Pela proximidade da língua, eu achei que não teria muito problema em me comunicar. Realmente não tive, até o dia em que saquei uma grana no banco Itaú, e ela não saiu no caixa, mas foi debitada na conta. Nenhuma das meninas que viviam comigo falava bem o espanhol, e eu menos. No fim, gastei horrores em ligações pro banco aqui no Brasil, pra depois entender que isso podia acontecer e que no dia seguinte a grana voltava pra minha conta.
Pra mim, foi uma escolha muito boa, mas sinto que se eu estivesse ido mais segura de tudo, não teria me mudado pra Colômbia um ano depois (isso também vai merecer um post à parte). Essas meninas que viviam comigo voltaram pro Brasil. Algumas não conseguiam entrar na faculdade, outras não levaram muito à sério a vida longe de casa. Acho que somente duas seguiram na medicina.

Falando especificamente sobre Buenos Aires, lá é uma cidade linda. A qualidade de vida é ótima, as pessoas são muito educadas e solicitas com os brasileiros. Mas entrar na faculdade não é tão fácil por não ter vestibular. Trabalhar lá pode te pagar menos do que você imagina e o custo de vida hoje em dia é alto.

Dependendo do curso, vale muito a pena ter um diploma de lá, como Moda por exemplo, que é muito bem conceituado. O importante é ir sabendo que você precisa pensar em tudo isso. Mas sempre entender que uma experiência em outro país é gratificante, te faz crescer muito como pessoa, mas precisa ser pensada. A saudade vai doer, você vai pensar em voltar, se algo não der muito certo você vai querer sair correndo pro cola da família. Mas se você estiver bem, seguro da sua escolha e com tudo sob controle, vai aprender a conviver com esses sentimentos.

O objetivo desse blog é ajudar as pessoas nessa escolha, ajudar a entender como são esses processos e conhecer um pouco de como é a vida lá.

Acompanhe a gente pelo facebook, escreva se tiver dúvidas ou conte pra gente como está sendo sua experiência na terra do Maradona.