Como eu contei no meu post anterior sobre a decisão de viajar, depois de definido destino, tive que partir pra parte prática da coisa. Primeiro, dinheiro.
Eu sabia que meus pais me ajudariam caso eu passasse algum perrengue por lá, mas todo o resto era por conta própria. Na época eu trabalhava em uma agência, e tinha um freela mensal com um amigo, que me pagava bem. Fiz as contas de tudo o que era necessário pra eu viver, e como eu morava com meus pais, quase não tinha despesas. Basicamente funcionou assim: eu somava meu salário e meu freela (e algum trabalho eventual que eu conseguia as vezes) e descontava os gastos diários, contando transporte, cigarro, celular, e cartão de crédito. Assim, eu tive noção de que todo o resto eu gastava em nada! Sério, quando você coloca na ponta do papel percebe o quanto você não sabe pra onde vai o dinheiro.
Depois, separei uma grana por semana, que seria pra sair com os amigos ou viajar. No começo me limitou muito, mas depois entendi que na verdade isso me dava muita liberdade, porque comecei a estabelecer prioridades e eu já saia de casa sabendo o quanto eu podia gastar. E se eu queria gastar muito, tinha que ficar o sábado em casa. Feito essas contas, eu sabia quanto eu poderia guardar por mês e consegui prever quando eu teria a grana necessária. Foi um ano economizando e pensando "é pelo meus sonho que eu vou deixar de fazer isso hoje".
No meio do caminho, sempre que sobrava uma grana, eu simplesmente não gastava tudo, eu comprava algo que precisava. Sim, você precisa de uma mala grande (ou duas, porque casacos de frio são pesados e na Argentina você vai precisar), tive que arrumar o computador pra poder trabalhar a distância, me preparei pro frio de -2 graus comprando desde meias até sobretudo, sempre de olho em promoções e descontos. Também tive que fazer o passaporte, que na época saiu uns 400 reais eu acho, já que o mais longe que eu tinha viajado tinha sido até Porto Seguro na formatura do colegial.
Depois, decidi contratar uma assessoria para legalizar meus documentos. Quase todo mundo que vai pra Baires faz isso, pois bem. Na época eu não conhecia ninguém que vivia lá, e o Facebook não era tão popular quanto hoje. Resultado: paguei pouco mais de 2000 reais pra uma assessoria que no fundo, eu nem sabia se existia. Graças a Deus eles existem, e o pacote incluía DNI, legalização de diploma, translado do aeroporto até a casa onde eu ia morar e 2 semanas de um curso de espanhol.
Chegando lá percebi que você pode fazer o DNI sozinho, como eu conto aqui, porque o máximo que eles fizeram foi marcar meus turnos e me acompanhar até os lugares porque você precisa fazer os tramites pessoalmente. Como publicitária eu não preciso legalizar diploma pra trabalhar lá, e olha que deu um certo trabalho. Tive que traduzir, juramentar, mandar pra lá e pra cá, mandar pro Ministério da Educação, e hoje tenho um diploma e os certificados de conclusão do colégio todos furados, assinados e carimbados. Então pesquise bem se realmente é necessário que você faça algo do tipo antes de ir.
Eles me indicaram uma casa, onde viviam 4 brasileiras. Falei com elas por Facebook algumas vezes, na verdade eu ficaria no lugar de uma menina que estava se mudando pra Rosário. Não tinha ideia do bairro, se os preços eram altos ou não, nem me explicaram bem sobre os valores das contas ou da vida lá. Eu confesso que fui um pouco no escuro, mas eu não tinha medo. Eu tinha grana e poderia me mudar da casa quando quisesse, ir pra qualquer lugar. Haviam outras opções, como hostels e casas para estudantes, mas eu queria liberdade, privacidade e segurança. Não queria ir pra algum hotel e ficar pensando em sair rápido e procurar apartamento, decidi ir direto pra esse lugar. Ah! A assessoria não teve nada a ver com isso, eles só me passaram o contato das meninas, porque uma delas havia viajado através deles também.
O grande dia foi quando comprei as passagens. O que me confortou muito, foi que eu comprei as passagens de volta pra 4 meses depois, pois eu tinha um casamento de um grande amigo de infância e não poderia deixar de ir. Dar a noticia pra família foi pior do que dizer que queria viajar. Meus pais riram meio inconformados, meus amigos não acreditavam e o que eu mais ouvia era que ainda tinha bastante tempo até eu viajar.
Mas passou rápido e depois de uma despedida regada a churrasco, cerveja e todo mundo que eu gostava reunido, eu arrumei as malas e fui. Viajei bem cedo, praticamente passei a noite em claro. A minha melhor amiga ficou comigo. A gente se conhece desde pequena, são 22 anos de amizade e ela me acompanhou até o último minuto. Despedir-se da família dói, mas quando você vê um amigo seu chorando, ainda mais no aeroporto que já tem um clima de despedida no ar, você sente algo se quebrando.
Minha despedida foi a melhor parte!
Mas os amigos, esses ficam um pouco. É como se você rompesse alguma coisa entre você e cada um deles. Você vai perder histórias, bares, viagens. Você não vai estar lá quando sua amiga chorar, nem quando ela arrumar outro namorado. Você não vai ter pra quem contar algo que você descobriu estando fora, e o tempo vai passando. Senti muito medo de ser esquecida.
Um amigo me disse que é muito mais difícil pra quem fica. Porque o seu espaço fica vazio, você faz falta. Quando você tá longe você faz novos amigos, tem uma nova rotina, mas quem fica vai sentir sempre a nossa falta. E isso me fez pensar que com o tempo esse lugar que era meu, não ia mais existir. Mas eu queria ir, eu precisava, e fui.
Hoje, depois de 3 anos fora do país, percebo o quanto é difícil se readaptar. Por isso, seja pro Senegal ou pro Chile, você tem que estar muito seguro da mudança e da loucura que é sair da zona de conforto. Mas também entender que há muita beleza nisso, muito crescimento pessoal, auto conhecimento e principalmente que é gratificante você perceber que pode muito mais do que imagina. Que você vai se sentir deslocado, fora ou no Brasil, e que isso é bom porque faz você se mexer, sabe? E que você pode não ser mais parte das histórias dos amigos, mas será sempre parte da história deles. E no fim isso é o que importa.
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