Meu primeiro perrengue foi na imigração. Me perguntaram onde eu ficaria. Hoje eu sei que poderia ter dito qualquer hotel e pronto, mas não, quis explicar pro cara que eu ficaria na casa de umas meninas que eu nunca vi na vida em um bairro muito bom na rua Callao. Exibindo meu bom portunhol, eu dizia "calhao", coisa que na Argentina seria mais como "cajao". Graças a Deus o cara desistiu e me carimbou o passaporte. Fui andando e pensando "ufa, ainda bem que a dona da assessoria é brasileira". Quando saio, um cidadão com uma placa com meu nome soltou logo um "Hola Nathalia". Já entendi que eu PRECISAVA aprender logo espanhol, porque não era tão fácil quanto a gente imagina.
Pegamos um táxi e fomos até o apartamento. Fiquei olhando a cidade maravilhada. Passamos pelos bosques de Palermo, e a arquitetura de lá é o que mais chama atenção. A primeira impressão que tive da cidade, você pode conferir nesse post.
Conheci as meninas com quem ia dividir o apartamento, e eram todas brasileiras. Hoje, apenas duas delas seguiram lá, estudando medicina. As outras foram voltando aos poucos. Lembro que cheguei, liguei pro meu pai e chorei. Chorei muito, sentada na minha nova cama, na minha nova casa, perdida, feliz, com saudade, com medo. Ele não falava nada, só me ouvia. Foi essa sensação que me segurou lá por muito tempo: eu sei que ele tá lá pro que eu precisar, mesmo longe, mesmo sem falar nada.
Uma das meninas fazia o curso de espanhol na mesma escola que eu. Enquanto fui fazendo os tramites do DNI, ia cursando as aulas, e ela me ensinou a chegar na escola e voltar. O curso de espanhol era um curso livre, sem muito material didático, mas era uma escola grande, onde eu conheci gente do mundo todo e os professores eram de muitos países diferentes. Depois de um tempo optei por fazer aulas particulares, mas porque eu tinha pressa em aprender, afinal muitos brasileiros que vivem lá há muito tempo não sabem falar espanhol, e eu definitivamente não queria me acomodar.
Eu no curso com uma americana, um londrino, uns brasileiros e o professor argentino mais querido, Gérman.
Depois de uns 3 dias que estava lá, uma das meninas me chamou pra caminhar. Fomos a pé a muitos pontos turísticos, e terminamos em Puerto Madero. Cada quarteirão que a gente andava, eu me apaixonava mais. Não dá pra explicar, mas eu simplesmente me sentia muito feliz ali. Conheci um pouco dos lugares, ela me ajudou a me locomover pela cidade, me ensinou as palavras básicas pra poder fazer compras e me fez sentir menos deslocada.
Tive muita sorte de conhecer meninas que foram legais comigo, que me ensinaram muitas coisas e principalmente, que me levaram pra todo lado. Lembro bem da primeira noite que sai, fomos na Pachá. Não é a melhor coisa de Buenos Aires, mas confesso que é muito lindo o lugar. Ela fica na Avenida Costanera, nas margens do Rio de La Plata. Tem muitas baladas por lá, a vista a noite é incrível, e a grande novidade foram os horários e o transporte. Fomos de ônibus, saímos depois da meia noite e eramos 4 mulheres. Esse dia comecei a entender que eu era uma mulher saindo a noite com as amigas, e que eu não precisa dizer que estávamos sozinhas. Lá é muito seguro, saí muitas vezes pra encontrar meus amigos tarde da noite, e essa sensação eu nunca tive vivendo em São Paulo.
Pachá Buenos Aires
Esse dia conhecemos muita gente, nem sempre é assim mas algumas vezes eu senti isso na noite de Baires, você faz amizades sem necessariamente ser xavecada. Bom, se existe algo que me arrependo é de não ter feito mais amizades argentinas. Fica a dica, você fora do seu país sempre vai procurar seus conterrâneos, é mais fácil de se relacionar e você se sente mais seguro. Mas não é a melhor opção sempre. Isso dificulta o aprendizado da língua e te limita muito a conhecer os costumes das pessoas de outro país. Então é bom saber dosar, não perca a oportunidade de conhecer outras pessoas e não frequentar só festas brasileiras, se possível busque estrangeiros pra dividir apartamento.
Aos poucos fui ficando mais independente. Além de ter um ritmo muito diferente do delas (elas estudavam pro CBC) o que eu queria mesmo era conhecer tudo e poder estar sozinha. E em pouco tempo eu já tinha me perdido o suficiente pra conhecer a cidade, já havia falado todas as bobagens em espanhol que podia e já podia me alimentar ou comprar algo sem fazer sinais! No fundo, a chegada não foi tão traumática quanto a despedida. Eu estava realizando um sonho, eu tinha conquistado tudo aquilo com esforço meu, e Buenos Aires é muito fácil de se apaixonar. Ficou fácil.
Algumas coisas que não falei, tipo alugueis, mercado, contas, prefiro fazer em posts separados, pois merecem muita atenção, e também porque as coisas mudaram muito de lá pra cá.
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