Nem só de reggaeton vivem os argentinos. E se existe uma coisa que eles sabem fazer, é música. E rock!
Lembro do meu primeiro dia de aula no curso de espanhol. Antes das aulas todo mundo ficava reunido numa sala, tomando café e comendo uns petiscos. Em cima da mesa, havia um aparelho de sons e alguns Cds. Ali foi quando conheci Soda Stereo.

A banda começou em Buenos Aires em 1982. Com um estilo meio glam, Gustavo Cerati, Zeta Bosio e Charly Alberti conseguiram sucesso em toda América Latina, sendo considerada umas das mais influentes bandas de rock em espanhol, e contribuiu e muito para difusão do rock iberoamericano no mundo.

Depois de alguns anos de estrada, e muitos recordes de venda, a banda decidiu terminar em meados de 97 e saiu em uma turnê de despedida. O cd desse show é uma ótima pedida pra quem quer começar a ouvir a banda, porque reúne os maiores sucessos deles. É só procura no youtube Soda Stereo: El último concierto.

Se você tá pensando que o sucesso deles não chegou no Brasil, se enganou. Os Paralamas do Sucesso fizeram uma versão em espanhol de uma música muito famosa deles. E o Capital Inicial também, mas a deles é em português e não traduz fielmente a letra, inclusive, é muito ruim comparada a original.



Quase 10 anos depois, o Soda Stereo resolveu fazer uma turnê, chamada Me verás Volver. Também é um ótimo cd pra escutar. Os ingressos iam se esgotando, acabaram fazendo mais shows do que o previsto e novamente o Soda voltava aos holofotes do mundo da música.

Sei que rola um certo preconceito com o rock em espanhol, pode até ser diferente do rock que estamos acostumados. Mas a qualidade musical e das letras do grupo realmente me fizeram colocar a banda como uma de minhas preferidas.

Gustavo Cerati


Cerati era vocalista da banda. Também seu principal compositor. Mesmo enquanto estava no Soda, e depois que a banda terminou, ele lançou 5 cds solos. Sucesso outra vez. Gustavo era excelente com as palavras mas também era um músico incrível. Pra conhecer um pouco, eu sugiro o cd Fuerza Natural. É ótimo.

Mas, em 2010, Gustavo teve um AVC, em um show na Venezuela. Ficou mais de quatro anos em coma, e causou grande comoção em todo o continente.

Em 2014, ele faleceu, em Buenos Aires, sua cidade natal. Lembro que estava em Bogotá essa época e foi realmente absurda a comoção geral, na tv, na rádio, as pessoas. Baires quase parou pro velório dele, foram homenagens atrás de homenagens. Shakira, U2, Roxette, e até o Grammy latino pararam pra cantar e homenagear as musicas dele (experimenta colocar #cerati no instagram e você vai ver o amor que as pessoas tem pelo cara).

A boa notícia pra quem gosta da banda (EU!) é que o Cirque de Soleil está preparando pra 2017 um show em homenagem a eles. Sim, depois de Michael Jackson e Beatles, o circo está fazendo um show todinho em cima das musicas deles.

Muito provavelmente eles não venha pro Brasil com esse show, e muito provavelmente (amém) eu já estarei em Baires quando isso acontecer, somando ao fato de que eu sempre quis ir no Cirque de Soleil, e AMO Soda Stereo, imaginem uma pessoa FELIZ nesse momento.



Homenagem mais incrível que essa impossível. Que pena que o Gustavo Cerati não está mais aqui pra poder assistir.










Cheguei na Argentina a tarde. Não entendia bulhufas do que o povo falava no aeroporto, senti um desgosto enorme por haver esquecido das aulas de espanhol do colégio, mas fui seguindo o fluxo, afinal aeroportos não eram uma zona conhecida pra mim.

Meu primeiro perrengue foi na imigração. Me perguntaram onde eu ficaria. Hoje eu sei que poderia ter dito qualquer hotel e pronto, mas não, quis explicar pro cara que eu ficaria na casa de umas meninas que eu nunca vi na vida em um bairro muito bom na rua Callao. Exibindo meu bom portunhol, eu dizia "calhao", coisa que na Argentina seria mais como "cajao". Graças a Deus o cara desistiu e me carimbou o passaporte. Fui andando e pensando "ufa, ainda bem que a dona da assessoria é brasileira". Quando saio, um cidadão com uma placa com meu nome soltou logo um "Hola Nathalia". Já entendi que eu PRECISAVA aprender logo espanhol, porque não era tão fácil quanto a gente imagina.

Pegamos um táxi e fomos até o apartamento. Fiquei olhando a cidade maravilhada. Passamos pelos bosques de Palermo, e a arquitetura de lá é o que mais chama atenção. A primeira impressão que tive da cidade, você pode conferir nesse post.

Conheci as meninas com quem ia dividir o apartamento, e eram todas brasileiras. Hoje, apenas duas delas seguiram lá, estudando medicina. As outras foram voltando aos poucos. Lembro que cheguei, liguei pro meu pai e chorei. Chorei muito, sentada na minha nova cama, na minha nova casa, perdida, feliz, com saudade, com medo. Ele não falava nada, só me ouvia. Foi essa sensação que me segurou lá por muito tempo: eu sei que ele tá lá pro que eu precisar, mesmo longe, mesmo sem falar nada.

Uma das meninas fazia o curso de espanhol na mesma escola que eu. Enquanto fui fazendo os tramites do DNI, ia cursando as aulas, e ela me ensinou a chegar na escola e voltar. O curso de espanhol era um curso livre, sem muito material didático, mas era uma escola grande, onde eu conheci gente do mundo todo e os professores eram de muitos países diferentes. Depois de um tempo optei por fazer aulas particulares, mas porque eu tinha pressa em aprender, afinal muitos brasileiros que vivem lá há muito tempo não sabem falar espanhol, e eu definitivamente não queria me acomodar.

Eu no curso com uma americana, um londrino, uns brasileiros e o professor argentino mais querido, Gérman.


Depois de uns 3 dias que estava lá, uma das meninas me chamou pra caminhar. Fomos a pé a muitos pontos turísticos, e terminamos em Puerto Madero. Cada quarteirão que a gente andava, eu me apaixonava mais. Não dá pra explicar, mas eu simplesmente me sentia muito feliz ali. Conheci um pouco dos lugares, ela me ajudou a me locomover pela cidade, me ensinou as palavras básicas pra poder fazer compras e me fez sentir menos deslocada.

Tive muita sorte de conhecer meninas que foram legais comigo, que me ensinaram muitas coisas e principalmente, que me levaram pra todo lado. Lembro bem da primeira noite que sai, fomos na Pachá. Não é a melhor coisa de Buenos Aires, mas confesso que é muito lindo o lugar. Ela fica na Avenida Costanera, nas margens do Rio de La Plata. Tem muitas baladas por lá, a vista a noite é incrível, e a grande novidade foram os horários e o transporte. Fomos de ônibus, saímos depois da meia noite e eramos 4 mulheres. Esse dia comecei a entender que eu era uma mulher saindo a noite com as amigas, e que eu não precisa dizer que estávamos sozinhas. Lá é muito seguro, saí muitas vezes pra encontrar meus amigos tarde da noite, e essa sensação eu nunca tive vivendo em São Paulo.

Pachá Buenos Aires

Esse dia conhecemos muita gente, nem sempre é assim mas algumas vezes eu senti isso na noite de Baires, você faz amizades sem necessariamente ser xavecada. Bom, se existe algo que me arrependo é de não ter feito mais amizades argentinas. Fica a dica, você fora do seu país sempre vai procurar seus conterrâneos, é mais fácil de se relacionar e você se sente mais seguro. Mas não é a melhor opção sempre. Isso dificulta o aprendizado da língua e te limita muito a conhecer os costumes das pessoas de outro país. Então é bom saber dosar, não perca a oportunidade de conhecer outras pessoas e não frequentar só festas brasileiras, se possível busque estrangeiros pra dividir apartamento.

Aos poucos fui ficando mais independente. Além de ter um ritmo muito diferente do delas (elas estudavam pro CBC) o que eu queria mesmo era conhecer tudo e poder estar sozinha. E em pouco tempo eu já tinha me perdido o suficiente pra conhecer a cidade, já havia falado todas as bobagens em espanhol que podia e já podia me alimentar ou comprar algo sem fazer sinais! No fundo, a chegada não foi tão traumática quanto a despedida. Eu estava realizando um sonho, eu tinha conquistado tudo aquilo com esforço meu, e Buenos Aires é muito fácil de se apaixonar. Ficou fácil.

Algumas coisas que não falei, tipo alugueis, mercado, contas, prefiro fazer em posts separados, pois merecem muita atenção, e também porque as coisas mudaram muito de lá pra cá.







Como eu contei no meu post anterior sobre a decisão de viajar, depois de definido destino, tive que partir pra parte prática da coisa. Primeiro, dinheiro.

Eu sabia que meus pais me ajudariam caso eu passasse algum perrengue por lá, mas todo o resto era por conta própria. Na época eu trabalhava em uma agência, e tinha um freela mensal com um amigo, que me pagava bem. Fiz as contas de tudo o que era necessário pra eu viver, e como eu morava com meus pais, quase não tinha despesas. Basicamente funcionou assim: eu somava meu salário e meu freela (e algum trabalho eventual que eu conseguia as vezes) e descontava os gastos diários, contando transporte, cigarro, celular, e cartão de crédito. Assim, eu tive noção de que todo o resto eu gastava em nada! Sério, quando você coloca na ponta do papel percebe o quanto você não sabe pra onde vai o dinheiro.

Depois, separei uma grana por semana, que seria pra sair com os amigos ou viajar. No começo me limitou muito, mas depois entendi que na verdade isso me dava muita liberdade, porque comecei a estabelecer prioridades e eu já saia de casa sabendo o quanto eu podia gastar. E se eu queria gastar muito, tinha que ficar o sábado em casa. Feito essas contas, eu sabia quanto eu poderia guardar por mês e consegui prever quando eu teria a grana necessária. Foi um ano economizando e pensando "é pelo meus sonho que eu vou deixar de fazer isso hoje".

No meio do caminho, sempre que sobrava uma grana, eu simplesmente não gastava tudo, eu comprava algo que precisava. Sim, você precisa de uma mala grande (ou duas, porque casacos de frio são pesados e na Argentina você vai precisar), tive que arrumar o computador pra poder trabalhar a distância, me preparei pro frio de -2 graus comprando desde meias até sobretudo, sempre de olho em promoções e descontos. Também tive que fazer o passaporte, que na época saiu uns 400 reais eu acho, já que o mais longe que eu tinha viajado tinha sido até Porto Seguro na formatura do colegial.

Depois, decidi contratar uma assessoria para legalizar meus documentos. Quase todo mundo que vai pra Baires faz isso, pois bem. Na época eu não conhecia ninguém que vivia lá, e o Facebook não era tão popular quanto hoje. Resultado: paguei pouco mais de 2000 reais pra uma assessoria que no fundo, eu nem sabia se existia. Graças a Deus eles existem, e o pacote incluía DNI, legalização de diploma, translado do aeroporto até a casa onde eu ia morar e 2 semanas de um curso de espanhol.

Chegando lá percebi que você pode fazer o DNI sozinho, como eu conto aqui, porque o máximo que eles fizeram foi marcar meus turnos e me acompanhar até os lugares porque você precisa fazer os tramites pessoalmente. Como publicitária eu não preciso legalizar diploma pra trabalhar lá, e olha que deu um certo trabalho. Tive que traduzir, juramentar, mandar pra lá e pra cá, mandar pro Ministério da Educação, e hoje tenho um diploma e os certificados de conclusão do colégio todos furados, assinados e carimbados. Então pesquise bem se realmente é necessário que você faça algo do tipo antes de ir.

Eles me indicaram uma casa, onde viviam 4 brasileiras. Falei com elas por Facebook algumas vezes, na verdade eu ficaria no lugar de uma menina que estava se mudando pra Rosário. Não tinha ideia do bairro, se os preços eram altos ou não, nem me explicaram bem sobre os valores das contas ou da vida lá. Eu confesso que fui um pouco no escuro, mas eu não tinha medo. Eu tinha grana e poderia me mudar da casa quando quisesse, ir pra qualquer lugar. Haviam outras opções, como hostels e casas para estudantes, mas eu queria liberdade, privacidade e segurança. Não queria ir pra algum hotel e ficar pensando em sair rápido e procurar apartamento, decidi ir direto pra esse lugar. Ah! A assessoria não teve nada a ver com isso, eles só me passaram o contato das meninas, porque uma delas havia viajado através deles também.

O grande dia foi quando comprei as passagens. O que me confortou muito, foi que eu comprei as passagens de volta pra 4 meses depois, pois eu tinha um casamento de um grande amigo de infância e não poderia deixar de ir. Dar a noticia pra família foi pior do que dizer que queria viajar. Meus pais riram meio inconformados, meus amigos não acreditavam e o que eu mais ouvia era que ainda tinha bastante tempo até eu viajar.

Mas passou rápido e depois de uma despedida regada a churrasco, cerveja e todo mundo que eu gostava reunido, eu arrumei as malas e fui. Viajei bem cedo, praticamente passei a noite em claro. A minha melhor amiga ficou comigo. A gente se conhece desde pequena, são 22 anos de amizade e ela me acompanhou até o último minuto. Despedir-se da família dói, mas quando você vê um amigo seu chorando, ainda mais no aeroporto que já tem um clima de despedida no ar, você sente algo se quebrando.

Minha despedida foi a melhor parte!

Quando eu virei as costas no aeroporto, eu senti como se algo estivesse sido cortado. Como uma ligação mesmo, ou o cordão umbilical, não sei. É como se você se sentisse livre, mas você sabe que perdeu algo. Eu sabia que não iria voltar mais pra casa, que eu não seria a mesma pessoa. Sabia que estava rompendo o laço da infância, da adolescência também. Mas a família é sempre nosso porto seguro. Minha mãe seria sempre minha mãe, meus irmãos estariam lá quando eu voltasse, meu pai foi quem me abraçou e disse que qualquer coisa era só eu voltar. Eles não iam esquecer de mim.

Mas os amigos, esses ficam um pouco. É como se você rompesse alguma coisa entre você e cada um deles. Você vai perder histórias, bares, viagens. Você não vai estar lá quando sua amiga chorar, nem quando ela arrumar outro namorado. Você não vai ter pra quem contar algo que você descobriu estando fora, e o tempo vai passando. Senti muito medo de ser esquecida.

Um amigo me disse que é muito mais difícil pra quem fica. Porque o seu espaço fica vazio, você faz falta. Quando você tá longe você faz novos amigos, tem uma nova rotina, mas quem fica vai sentir sempre a nossa falta. E isso me fez pensar que com o tempo esse lugar que era meu, não ia mais existir. Mas eu queria ir, eu precisava, e fui.

Hoje, depois de 3 anos fora do país, percebo o quanto é difícil se readaptar. Por isso, seja pro Senegal ou pro Chile, você tem que estar muito seguro da mudança e da loucura que é sair da zona de conforto. Mas também entender que há muita beleza nisso, muito crescimento pessoal, auto conhecimento e principalmente que é gratificante você perceber que pode muito mais do que imagina. Que você vai se sentir deslocado, fora ou no Brasil, e que isso é bom porque faz você se mexer, sabe? E que você pode não ser mais parte das histórias dos amigos, mas será sempre parte da história deles. E no fim isso é o que importa.








A decisão de viajar pode parecer fácil, mais fácil do que a mudança real, mas quando você começa se dá conta de que existem tantas possibilidades, tanta coisa pra resolver que pode ficar muito fácil desistir de tudo. Eu já falei aqui sobre coisas básicas pra se ter em conta antes de qualquer viagem, mas hoje quero contar sobre a minha decisão em particular.

Diferente da maioria dos brasileiros que estavam lá, eu não fui para Argentina fazer faculdade. Eu já era formada em publicidade, desde 2008. Desde a faculdade eu tinha o sonho de morar fora. A única certeza que eu tinha era essa. Ah, e que eu queria aprender espanhol. Nunca fui fã do inglês, na minha profissão ele nem conta muito e eu tenho até hoje muita dificuldade com o idioma. Até cogitei ir pra Londres, mas eu me atraia muito mais pelas fotos do que por algum relato de alguém que vivia lá.
Juntando Europa e espanhol, eu comecei a me programar para ir pra Espanha. Meus avós são portugueses, busquei muita informação sobre a dupla cidadania, meu avô inclusive me trouxe um documento de Portugal que tinha tudo o que eu precisava: certidão de nascimento, casamento, óbito da minha avó e o registro da vinda dele pro Brasil. Mas, eu precisava que um parente direto, vulgo meu pai, também tivesse a cidadania.

Meu pai nunca foi a favor de que eu viajasse, a minha mãe apesar de parecer feliz com a ideia, no fundo não achava que eu faria tudo o que eu fiz. Em resumo, não consegui a cidadania, e isso complicaria muito a minha viajem. Na época (2011-2012) a Europa passava por uma crise, e estava dificultando e muito a entrada de estrangeiros. Brasileiros então, nem se fala. Havia muitas histórias de brasileiros que eram deportados, mesmo cumprindo as exigências deles: ter uma quantia enorme de euros da conta e a passagem de volta comprada.

Foi depois de muita pesquisa que entendi que havia muitas alternativas, diferentes dos destinos tradicionais. África do Sul, República Tcheca, Nova Zelândia e América Latina. Também entendi que contratar uma empresa de intercâmbio não era o que eu queria. A intenção não era essa, eu queria ter mais liberdade quanto ao lugar onde eu ia viver e estudar. Acho que hoje em dia é muito mais fácil você se mudar sem essa ajuda, pois com a internet, blogs, grupos em redes sociais você consegue todo tipo de informação e até conhece pessoas que te ajudam com isso.

Eu nunca havia saído do país. Sempre rola um preconceito quando a gente pensa em América Latina, eu não conhecia nada, só ouvia história de viagens estilo mochilão, de montanhas, hostels e Machu Pichu. Então, estudar espanhol em algum país daqui me parecia uma loucura. É uma pena, porque a gente (sim, apesar de muitas diferenças, o Brasil faz parte disso) tem muita história e somos um povo muito receptivo, pelo menos nos poucos países que conheci no caminho.

Mas a Argentina era o destino principal de toda pesquisa. Tudo me levava a Buenos Aires. Acho que pelo seu “ar europeu” a Argentina sofre menos esse tipo de preconceito. Confesso que não foi nada disso que me atraiu, fui muito mais pelo custo de vida, proximidade, estilo de vida e pelas oportunidades. Também foi mais fácil me decidir porque um amigo meu (o mesmo que me influenciou a fazer publicidade) já tinha vivido lá. Ele me falou sobre os cursos de criação publicitária, sobre as agências e sobre o quanto isso poderia fazer bem pra minha carreira. Era a opção perfeita.

Agora eu precisava organizar mais algumas coisas: juntar dinheiro, escolher datas e passagens, procurar informações sobre a documentação, decidir que curso fazer. Me lembro que não tinha ideia de quanto tempo ficaria, nem o que faria por lá. Minha decisão foi muito mais pelo lado pessoal do que pelo lado profissional. Eu já estava economizando há algum tempo, tinha inclusive uma tabela para organizar meus gastos. Fiz alguma conta rápida e decidi que quando chegasse a determinada quantia, eu ia embora.

No meio disso tudo, meu pai ficou doente. Isso atrasou minha viagem em alguns meses. Mas também me fez pensar que se eu já tivesse viajado, não estaria com ele. Me fez pensar que você pode estar longe quando alguém precisar de você, ou você precisar de alguém. Me fez repensar família, amigos, vida e tudo mais. Foi difícil manter a decisão depois de tudo isso porque estando longe, além de perder bons momentos, você também pode perder alguns maus momentos, ou perder pessoas. Viajar é um ruptura grande não só com amigos e relações, mas com o falso conforto que a gente sente por estar ao lado de pessoas queridas o tempo todo, e as vezes não paramos pra pensar que coisas ruins podem acontecer com elas. Estar na Argentina seria estar a duas horas de São Paulo, com passagens que não eram caras na época, e isso me ajudou muuuuito a decidir. Graças a Deus meu pai ficou bem, todo mundo ficou bem, e eu pude ir tranquila pra lá.

Na verdade, eu queria muito viajar. Eu realmente precisava naquele momento mudar de ar, de cidade, estar sozinha comigo mesma. Eu queria viver outra coisa, descansar do trabalho, desfrutar o esforço de deixar de fazer tanta coisa pra economizar mais um pouco aqui e ali. Eu fui pra me conhecer, e conheci tanta coisa e tanta gente, fui parar em Bogotá, e no fim tudo valeu a pena.

Eu conheci muita gente que voltou. Muita gente que mudou de rumo lá mesmo. Gente que tá lá até hoje. Mas conheci muita gente que não sabia o que fazer. Você vai ler muita coisa antes de ir, pode falar com pessoas que adoraram fazer intercambio, com gente que vive em outro país e ama, mas a decisão é muito pessoal, e nem tudo são flores. Primeiro tem que querer de verdade ir embora. Tem que querer muito, porque você vai estar sozinho. Você aprende a cozinhar, a andar sozinho, você precisa falar com pessoas em outro idioma, você vai fazer mil coisas que nunca fez, então você precisa amar sua decisão. Tem que estar seguro de que é isso que você quer. As vezes, Buenos Aires atrai muita gente por causa da faculdade sem vestibular, ou porque algum amigo passou o fim de semana lá e tudo pareceu muito barato. Não é bem assim, você tem que estudar muito, o portunhol não vai resolver sua vida e ir como turista é beeem diferente de viver lá.

Foto clássica em San Telmo.
Os personagens ficavam espalhados pelo bairro, mas a Mafalda é a mais conhecida e sempre tinha sempre uma fila enorme pra tirar foto com ela, e com os outros não. Agora eles ficam todos juntinhos aí.

Eu amo Buenos Aires, esse blog é pra ajudar as pessoas que querem ir mas também é pra me ajudar, pra escrever sobre tudo isso. Quero voltar, hoje muito mais consciente de tudo o que eu tenho que passar (de novo) pra poder ir, mas também com a experiência de ter ido a outro país, a Colômbia, atrás de algumas coisas que não funcionaram muito bem, de me sentir triste, insatisfeita, e de viver aquele momento que eu poderia ter evitado: quando a gente se dá conta de que não fez a melhor escolha, e que é melhor voltar atrás e recomeçar.